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Cat in a Zoo - HMM (2020)

CAT IN A ZOO – HMM (2020)

HMM prova ser um álbum tão intimista e subjetivo quanto seu próprio título

Eu gostaria de falar sobre a inércia.

Existente desde 2015 e passando por diversas formações desde então, o duo de indie folk e indie pop, Cat in a Zoo – constituído por Edilson “Eddie” Oliveira (baixo, backing vocal) e Heitor Lopes (vocal, guitarra, violão e sintetizadores), ambos habitantes do distrito do Grajaú, extremo sul de São Paulo – divulga promessas de lançamentos de estúdio desde 2019, com o single Depois da Meia Noite, divulgado em dezembro, que prometia a vinda de seu debut ainda sem título. Até que no dia 1 de maio de 2020 – às exatas depois da meia noite do dia 30 de abril –, fazendo todo o processo de gravação, produção e divulgação de forma independente, HMM é finalmente lançado.

Podendo ser a onomatopeia gerada por um constante estado de dúvida, de reflexão ou até mesmo a representação de um acrônimo, HMM transcreve seu ambíguo conceito por meio dos samples de diálogos e das letras abstratas compostas por Heitor – que apesar de já ter relatado na página do Bandcamp da banda que as letras tratam sobre a tríade família, religião e criação, desde o início fica claro que nada será entregue de forma óbvia – e seus vocais por vezes indistinguíveis que se perdem em meio ao instrumental.

Fazendo jus ao título do álbum, UP, o tímido ponto de partida sujeito a diversas interpretações, apresenta uma guitarra banhada em chorus, um tênue sintetizador, um contrabaixo ousado e trechos tocados em violão no encerramento que, juntos à experimentação de LOL, a faixa seguinte, estabelecem os parâmetros de introversão que serão tomados como referência durante quase todos os 31 minutos restantes de audição, sendo esses claramente perceptíveis em um dos grandes destaques do disco que é o single de 2019 renomeado para Não Estou Legal Comigo Mesmo Depois da Meia Noite e também na melancólica MILK.

Apesar de tanto acolhimento, HMM não se sustenta só de calmaria e quietude. Entre a sexta e sétima faixa, os artistas deixam um pouco de lado os as baterias sintetizadas e investem em baterias reais, gravadas, cada uma, por membros convidados, além de guitarras distorcidas e solos. Ainda em relação a essa seção taquicardíaca do disco, é apresentado o breve olho do furacão causado por Heavy Storm, provocado majoritariamente pelo contraste dicotômico da suave voz de Heitor com os vocais gritados de Edilson, em sua única, porém marcante participação vocal. O encerramento desse caos vem com a explosão da dinâmica de crescendo da faixa Dancei Só.

Perto do fim, temos a sombria TaNTRUM que segue com uma atmosfera pesada e agonizante, agindo como uma preparação coesa para última faixa, Me Ajude a Enxergar Com Seus Olhos, faixa que repete a fórmula de Terrorias e se sustenta com voz, violão e sintetizador, com o adicional de uma introdução dialogada e uma bela outro.

Por fim, HMM pode ser analisado como a tradução – tanto em letra quanto em instrumental – de diversas inseguranças e incertezas extraídas da mente de alguém hesitante que, em seu constante estado de inércia, pode às vezes dançar só e/ou até mesmo não se sentir legal consigo mesmo depois da meia-noite. Destaque para o conjunto de composições por todas as músicas envolverem o mesmo conceito com dinamicidade; aos diversos sintetizadores utilizados e suas variadas funções (percussão, melodia e ambientação); e ao notório som do baixo que serve em muitos trechos como instrumento melódico. O disco está disponível em plataformas como YouTube, Spotify, Soundcloud, entre outras.

Vão. Não olhem pra trás.